Reverberando comentários sobre o documentário de Wilson Simonal, dirigido por Cláudio Manoel, “Simonal – ninguém sabe o duro que dei” é material de análise para vários críticos se interpelarem com pensamentos, por vezes, demasiado Ilusórios. Para quem assistiu à película, tais apontamentos positivos ou negativos sobre sua suposta relação nebulosa com a ditadura (DOPS) não são o mote do documentário. Assim, o que se lê em periódicos impressos e online são mais posicionamentos políticos ante a história de Simonal do que, aceptivamente, fatos que se apresentam no filme. Aliás, pouco se encontra no filme, excetuando-se a confirmação e consolidação de que o “delator” foi um dos mais talentosos intérpretes que nossa música já teve ou tem.
Digo também no presente, pois atualmente não temos mais intérpretes, tanto de suas músicas quanto das dos outros. É um cacareco sonoro contínuo, irrefreável e, pior, vigente. Acrescente-se a isto um pequeno pormenor: voz “limpa”, extremamente técnica e com timbre agradável não são unívocos de qualidade interpretativa. Vide Jackson do Pandeiro, Noriel Vilela, Baden Powell, Bezerra da Silva, Adoniran Barbosa, Cartola, que não teriam uma “sonoridade acadêmica” e seria impensável, quase um sacrilégio, se estes a tivessem. Todavia, entrecortado por todos esses aspectos técnicos vibratórios que dominava (como “dedura” o filme), Simonal se diferencia, até hoje, de uma matilha de vozes.
Visto isto, é notório que críticos – leia-se quase palpiteiros – promovessem uma querela sobre tal caso, intentando construir uma reflexão velada sobre seu envolvimento com a direita-esquerda que aquela década vivia. Que Simonal era um enfermo cerebral não se contesta. Afinal, envolver-se com qualquer um dos lados dicotômicos daquele período já era achaque suficiente para qualquer um, oxalá não se manifestar. Talvez por sua ignorância política, talvez por sua candura pueril (não menos estúpida), o cantor foi boicotado por redes de televisão, rádios, jornais, casas de espetáculo, gravadoras e até mesmo amigos – haja vista a maior alcoviteira da música popular brasileira, Nelson Motta.
A respeito de enquadramentos de câmera e trilha sonora que sugeririam atmosferas opressoras (em Toni Tornado), garbosas (em Chico Anísio) ou cúmplices (em Simoninha e Max de Castro) que alguns blogs postaram - O Biscoito fino e a massa e Samurai no outono -, concordo plenamente sob o aspecto técnico. Tais recursos são e foram estudados servindo de tese, inclusive, para vários pesquisadores e teóricos. Mas se foram utilizados com esse intuito, cumpriram sua função. Afinal, imensamente agradecido, colho ramos e deslumbres para um documentário que se vale de tais recursos, posto que, ao que parece, filmar uma não-ficcão deve ser algo cru, insosso imageticamente como os filmes e escola de Eduardo Coutinho – que só são maravilhosos porque são filmados por ele. Mas ainda assim é raso para ostentar que isto é que faz do longa um resgate positivo de Simonal, como tantos blogueiros/críticos ressaltam.
Se existe algo de recuperação da imagem, de resignação na película, isso é estraçalhado perante as imagens do músico no fim da carreira. Magro, decadente, com uma voz irreconhecível, Simonal desperta sim interesse de uma provável atual mídia ao aparecer (de programas como o do Ratinho, por exemplo). A visão caquética, moribunda de um homem que regia um coral de 50 mil pessoas no Maracanãzinho é estupenda, vociferante, arrebatadora com força de tempestade ao tombar o barco de uma crítica forçosa, algo como uma verborragia com potencial de nova língua para confundir as cabeças babilônicas de um leitor desavisado que, ainda hoje, guia seu temperamento opinativo pendurando-se em estruturadas frases – quase neologísticas – de alguns formadores de opinião.
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