sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Irving Penn (ou os olhos que falam)




Irving Penn começou sua carreira como fotógrafo em meados da década de 1940. Três anos mais tarde passou a fazer trabalhos para a revista "Vogue", onde ficou por muitas décadas. Fotografou inúmeros artistas como Truman Capote, S.J. Perelman, Pablo Picasso e Kate Moss.

Em 7 de outubro de 2009 Irving Penn morreu em sua casa, na cidade de Nova Iorque, aos 92 anos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Por onde as idéias passaram (ou de um antes)


Todos os dias ergue-se naquela alameda de asfalto margeada por árvores, postes e concreto um dos mais famosos e significantes largos da cidade. Era a rua-estado, sempre percorrida por músicos, presidentes, policiais, advogados, enfermeiros, vendedores de amendoim, de rosas, poetas, mendigos, e toda ocupação que o ser humano inventou para os tipos variados encontrados em qualquer lugar em que exista uma fatia de gente. Num pequeno pedaço de chão, chicoteado por aquelas serpentes cobertas de asfalto que rodeiam pela metrópole, vários mundos encapuzados dentro de um só.

Avistada ao longe, talvez do alto de algum edifício próximo aos seus cruzamentos, à noite, parece um enorme caminho de formas, em que todos os prédios, árvores, cores, lembrassem as asas de uma imensa borboleta de concreto. Durante o dia, ainda sentenciada por papéis, máquinas, computadores, aquele naco de noite surgindo e as pessoas se contorcendo para que nascesse o escuro. Alguns pelo cansaço, outros pela inquietação da volta para casa, enormes amontoados de gente se misturam pelos vários pontos de ônibus espalhados pela subida. Esperam, afoitos, todos os moradores da Rua ou mesmo da cidade que a tomba patrimônio.

Ao perceber sua extensão se deveria fazer um abaixo-assinado e transformá-la em patrimônio de boêmios, pedintes, mendigos ou qualquer outra pá de conversa que ali se joga em copos. Designação mais ampla, imperativa, robusta, que guardaria em sua pronúncia formal todas as informalidades que a mesma já produziu. Pequena, provinciana, guarda em si um mundo. É bem possível que se troquem ao longo dos anos os seus pisos, calçadas, é natural que a Rua mais cosmopolita da cidade seja também uma de suas mais conservadas. Entretanto, não deve-se tocar em suas paredes, pois essas já cercearam muitas estórias.

Que do alto, segundo os textos, foram criadas as matas com seus revigorantes verdes e toda matéria-prima que conhecemos é aceitável. Mas, observando aquela Rua, percebe-se como é possível o homem construir com as mãos um belo mundo herege.


Os personagens

Um músico ali entoava, um cineasta ali vislumbrava, um escritor ali imaginava, um poeta ali versava. Milton Nascimento, Schubert Magalhães, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade foram alguns dos filhos que aquela amamentou. Ao subir e descê-la aquelas pernas todas cruzavam também palavras. Hoje, ainda pouco conhecidos em vista dos acima, outros tantos são encontrados por aquelas esquinas. Talvez não tão músicos, talvez não tão cineastas, talvez não tão escritores, poetas ou mesmo talentosos. Mas todos com a simples e divina infâmia certeza de que costuram seus sonhos com as linhas da calçada, do asfalto, do céu.

Cismas com quem, já de madrugada, quase alvorada, rondava por aqueles caminhos como se rasgasse os espaços com os olhos, de viés, na procura de um dinheiro fácil, um tênis novo, um cordão de ouro, uma farda qualquer que cruzasse seus pulsos com grampos de aço. Ordem.

Seus corredores

Divertidas aquelas esquinas. Guardavam em suas curvas o inesperado. Um bar, um quase-homem, uma ratazana, às vezes gato, por vezes pássaro. Estreitas, as calçadas são ocupadas para o delírio ébrio de vários passantes, diversas cadeiras douradas. Formavam um liberto corredor onde todo imprevisto era bem-vindo. Personagens homens, vivos aparentando mortos, assentos na espera de um companheiro solitário que, desavisadamente, sentaria-se para apenas um trago.

Aquele pequeno, miúdo mesmo bar, parecia estar suspenso ante aquela enorme e estrondosa Rua de carros, motos, ônibus, gritos, sussurros, e abrigava em seu nome o resumo de toda noite: Eldorado. O nome, na verdade, não era este. Mas condizia, em enorme escala, incomparavelmente real em alegoria ao original. De sua posição, era possível mirar todos os principais pontos do quarteirão. O edifício Maletta, sua casa, o restaurante La Greppia, sua irmã, a Janaína lanchonete, sua amante, e sua mãe, o Centro de Cultura de Belo Horizonte, que mais parecia uma catedral barroca, que observava fincada na principal esquina da Rua os passos de seus mais queridos filhos-homem.

sábado, 24 de outubro de 2009

À paulistada


Apesar de estar sim contando com algo provável, embora longínquo, não consegui me deter a escrever o presente texto. Mesmo ciente de que este possa ser não equivocado, mas prematuro. Somos algo indizível. Arquitetamos conquistas que acontecem, quase sempre – ou sempre – apenas em nossas cucas. Contudo, ante os comentários (ou a falta destes) nos noticiários esportivos nacionais (?), promulgo aqui um levante contra a omissão em perceber que o Clube Atlético Mineiro, hoje, é o candidato mais próximo ao título do Brasileiro.

Analisemos rapidamente aos 8 jogos restantes: O Atlético enfrenta, hoje, o Vitória no Mineirão. Mais de 47 mil ingressos já vendidos. Contudo, não terá Éder Luis (Rentería), Correa (Serginho) e Carlos Alberto (Coelho), mas jogará em casa e com Tardelli; no próximo jogo, pegará o Fluminense (rebaixado), no Maracanã, além de Goiás, também fora de casa; receberá o Flamengo no Mineirão (lotado); Coritiba fora; Internacional em casa (lotado); Palmeiras no Parque Antártica; e Corinthians no Mineirão (claro, lotado).

Dizer que todos os jogos são difíceis não seria verdade. Seria moralidade. Como ouvi certa vez, “nosso time só é grande por conta de sua torcida”. Isso queiram até os mais loucos, é fato. Assim, o que me envolve nessa imensa teia do azar que parece estar impregnada na camisa alvinegra é acontecer algo impensável, improvável, quase catastrófico nas últimas rodadas. E isto, todo atleticano sabe bem, é possível.

Mas antes disto, a omissão em perceber a possibilidade do título pelos paulistas é, vergonhosamente, visível. Talvez só haja destaque ao Atlético quando este conquistar o título (Ogum, Xangô e São Judas Tadeu que me ouçam) nacional. Portanto, mais que vislumbrar de olhos vendados um título, já conhecedor de várias frustrações, me serviria mais como um tapa de luvas mineiro, posto que a arrogância e a prepotência paulistana me encharcam de pejo e asco.

Assim, rumamos todos ao Nacional, pois nada é eterno, nada permanece, tudo se transforma com o tempo e este, nós atleticanos, já soubemos muito bem cultivar. Apaixonados por um clube. Não por suas conquistas, mas por sua camisa, suas dores e vindouras glórias.

Obs: quanto aos comentários anteriores que fiz a este mesmo clube que aqui exalto, não me culpo nem peço desculpas. Sou torcedor.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Utilidade pública


Hoje o post foi escrito exclusivamente para vocês. Há mais de cinco anos atrás, nascia o primeiro esboço do O Binóculo, veículo on-line criado por companheiros de turma na faculdade que, lapidações mais tarde, tornou-se uma bacana revista digital sobre cultura geral; que reunia textos com juízo de valor sobre o cotidiano, música, cinema, esportes, artes visuais, literatura, entre outros assuntos. Além de entrevistas, ensaios fotográficos e reportagens especiais. Chegou até a produzir versões para impressão. Chegou até a ganhar o prêmio PQN, em 2008.

Eu, assim como meus dois parceiros neste blog, produzia textos jornalísticos opinativos (artigos, editoriais, críticas culturais) e literários (crônicas, contos, poesias). Alcancei a função de editor-chefe no último ano de sua existência e fui lá receber o prêmio ano passado no Sesi Minas; o que foi motivo de comemoração – sim – para toda a equipe.

A idéia daquele espaço, resumidamente, surgiu da necessidade de os alunos publicarem, em algum lugar, o material que produziam dentro da sala de aula. O idealizador, Rodrigo Saturnino, reuniu um grupo de colegas e, juntos, formaram o O Binóculo. Durante os cinco anos de vida, vários escritores (ou aspirantes a tal alcunha), de alguns lugares da cidade, do estado, do país e do mundo passaram por lá. O que resultou numa coletânea heterogênea de textos com muita coisa boa. Não tudo, obviamente. Mas quase!

Vira e mexe me lembro como eu gostava dele, como ele tinha futuro, como ele acabou cedo e como posso fazer para revivê-lo. O motivo deste post é, nada mais nada menos, que prestar uma homenagem póstuma ao querido 'Bino', como era carinhosamente chamado por aqueles que tomavam conta do ‘empreendimento virtual’, além de divulgar que muitos dos vários textos que lá estiveram ainda estão disponíveis para leitura. Divagações à parte, deixo aqui a coletânea que fizemos após a morte prematura do site, para que, apesar da imensa falta, vocês leitores possam ter registros do que foi o O Binóculo.

Para navegar por esses textos (inclusive dos três autores que aqui escrevem) basta clicar aqui.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Aos pulmões

Em certo tempo, ruído por produções catastróficas, seres humanos criavam suas próprias veracidades. Alguns, rechaçados por tanto, não questionavam sua exatidão, apenas cultivavam ainda mais o jardim falso. Assim, o lucro e a eloqüência discursiva se encarregavam de omitir a verdade em favor de um consumismo letal, mas que era maquiado pela Indústria: detentora da hipocrisia e da controvérsia.

Anos se passaram depois também de muitas guerras, extermínios coletivos e diversas outras banalidades da Humanidade. Contudo, a Indústria mantinha sua pose, seu varão social. Elucubrava constantemente sobre como produzir efeito de consumo, respeito e outras várias inquestionáveis informações. Conseguia, ante o efeito, quase sempre tal fato. Os indivíduos, carolas irredutíveis da mídia e da crença na mãe-consumo, nunca forjaram uma revolução. Criam naquilo.

Aos estalos da castanha, os pulmões avisavam. A mão higienizada de mentira - mas imunda de interesse e arrogância - da Ciência havia também lavado suas patas. Mas, no presente em que os abutres do embuste e da falsidade sobrepujam com foice qualquer possibilidade de prejuízo financeiro perante a verdade, fomos e somos enganados.

Os dias de fúria, desafortunadamente, começam a ser, tardiamente, os de hoje.

Clique e entenda o caso.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Da ordem das coisas


Certa vez, duas mocinhas comportadas, senhoritas dos bons costumes cristãos, argumentavam sobre a validade da pirataria eletrônica. Não muito distante dali, porcos envoltos em seus ternos, uísques e opulentos embornais se rolavam ao serem informados de tal comentário. Desejadas por eles, as mocinhas, andrajosas, cobertas por suas rendas rosadas, aguardavam ostentosamente pelos falos roliços de tais curadores da moral que engendrariam mais uma gestação coletiva. Elas, tolas, não entendiam que, de suas roupas aos seus posicionamentos, tudo era uma enorme patifaria. Já eles, conscientes obstetras que são, rebentariam aos tortos diversos filhos que seguiriam seus passos, corroborariam mais uma vez o dilúvio da tecnologia, atestando valor às coisas ao seu bel prazer.

Elas, mesmo sem saber, sem indagar, constavam no enorme Livro de Observações como contraditórias, pois compravam roupas falsas, surrupiavam a ordem legislativa ao consumirem antídotos ilegais, corrompendo-se por adquirir bens efêmeros, embora demasiado lucrativos para os porcos que, por sua vez, preocupavam-se apenas com mais, mais e mais. Assim, a ordem das coisas seguiu. Não com as mocinhas ou com os porcos, mas com o fato, aquilo que sempre permanece. O acontecimento imensurável, que agrega valores a objetos inanimados e põe a todos em uma enorme bolha ilusória chamada convenção.

sábado, 3 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios (ou “água com açúcar”?)


Pão com manteiga. Arroz com feijão. Bastardos Inglórios é, sem dúvida, o filme mais inofensivo de Quentin Tarantino. O diretor, um dos melhores roteiristas contemporâneos, apresenta um filme sem muitas novidades e, mais desapontador, não faz páreo com o restante de sua obra. Ligeiramente jocoso, sem sua característica montagem, seus enquadramentos e perspectivas, o que ressalta ao filme – e isso não é mérito, é repetição – , é um roteiro estruturado quase em um método: apresenta-se a estória; desenvolve-a; há o clímax; e o fechamento com alguma surpresa.

Funciona. É evidente. Mas ante as demais películas do cineasta, este é o seu pior filme. Não tanto pela estória, ou por ser, em suma, um filme ruim, posto que não o é, mas mais por não surpreender o espectador. Isto, inclusive, é fato que já acometeu vários grandes cineastas como Scorsese, Almodóvar, Glauber, Bertolucci, e, agora, Tarantino. Parece mesmo ser uma entre safra criativa.

Aos interessantes, o recorrente e ótimo trabalho de ator de Brad Pitt, representando Aldo "O Apache" Raine, além de Christoph Waltz, como Hans Landa. Todos os outros atores vem no rastro. Uma característica de Tarantino são os nomes de suas personagens. Assim, Bridget von Hammersmark (por Diane Kruger), Shosanna Dreyfus (por Mélanie Laurent), Frederick Zoller (por Daniel Brühl), Sgt. Donnie Donowitz (por Eli Roth) e PFC Utivich (por B.J. Novak) ajudam a tornar os filmes do diretor peculiares em certos aspectos.

Cenas longas e envolventes com diálogos afiados que sustentam câmeras estáticas e ângulos que, em cucas de outro diretor, poderiam se tornar maçantes, tediosas e pulverizariam um filme, são, em Quentin, algo recorrentemente delirante.

Assim, Tarantino parece não correr em favor de uma maturidade criativa, mas ao embate com uma obra já magnífica e, por isso, tão difícil de ser superada ou surpreendida – mesmo pelo próprio diretor.