Da última vez que conversei com ele, na hora em que cheguei estava muito nublado. Encontrei-o concentrado, sentado próximo à sua vitrolinha ligada no noticiário. Estava fazendo um jogo de loteria, sua ‘fézinha’. Cheguei e como sempre disse: Ô gente boa! E ele respondeu bem alto: Ô gente boa!. Aliás, ele sempre grita ao cumprimentar. Começamos a falar sobre a chuva, que ele tanto adora. Diz que é o choro do céu.
Muito não se sabe sobre ele. Sabe-se apenas que ele mora por ali. Pelo o que se pode notar, parece que não foi homem de vida fácil. Certo dia me disse que nunca teve luxo. Mas isso era facilmente perceptível; sua - hoje - velha fisionomia sofrida entregava. Disse-me também que não teve luxo porque Deus já tinha lhe dado a alegria de viver feliz. Vai ver ele não quis abusar da boa vontade divina.
Como já era sabido, a chuva começou a cair forte. Ajudei-o a colocar tudo debaixo da marquise e quando reparei, alguns dos copos que ele mesmo fabrica ficaram na chuva. Quando falei que ia buscá-los ele disse não. Eu, curioso, quis saber o motivo. E ele falou que após a chuva sempre recebe visitas. Fiquei calado, sem graça por não ter entendido. Então, ele continuou: É feio não dar de beber a quem o visita. Tome, beba. São lágrimas de céu.
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