quarta-feira, 14 de abril de 2010

Uma carta (ou sobre Clarice Lispector) [ou viva a Ucrânia!]


Querido casal,

lembrei-me daquele papo que tivemos (no Barnabé, entre umas e outras, se não me engano) sobre Clarice Lispector, João Ubaldo Ribeiro, etc. e tal. Ainda continuo preferindo o João Ubaldo, por achar ser um escritor mais completo, que trata de temas diversos que vão além dos paradoxos de nossa existência. Mas não é o caso desse escrito. Venho para lhes dizer que, nesse processo de recuperação, passagem e superação sobre o qual me encontro, resolvi reler o único exemplar que possuo dessa incrível mulher que, realmente, como poucos, soube escrever sobre o ser que somos. A Hora da Estrela, obra que tem como personagem principal uma nordestina de nome Macabéia, me serviu como um tônico vital, como néctar de vida, como um biotônico de inteligência. Além disso, me fez refletir e enxergar outras coisas que estavam embaçadas por sentimentos ainda entalados em minha garganta. Confesso que sofri. Sofri por me encontrar nessa situação e ler sobre os sofrimentos de uma personagem pela qual criei afeto; pela qual criei proximidade e bem-querer. Sofri por entender coisas difíceis de entender. Sofri por me sentir mal com as minhas perdas. Sofri por sofrer. Sofri por estar vivo, assim desse jeito. Sofri por ler uma autora sofrida e linda. Sofri por me sentir melhor que outras pessoas. Sofri por me sentir sozinho. Sofri por ter que deixar coisas para trás e ter de virar a página na qual queria que o livro de minha vida sempre estivesse aberto. Ou mais ou menos isso... Ainda assim, consegui enxergar coisas. Mais importante: consegui digerir coisas. Meu universo agora é maior. Compreendi com compaixão o que não era pra ser compreendido dessa forma, mas optei por assim o fazer. B me disse que pessoas como eu sofrem mais, mas são melhores e difíceis de se encontrar por aí. Na hora isso me causou muita revolta. Mas agora eu absorvo de outra forma. Sou assim, criado assim, crescido assim. Pobre são os egoístas, os rancorosos, os incapazes, os fujões, os covardes e os desonestos. Não que eles sejam pessoas ruins, como é possível de não serem, visto que pessoas boas possuem um ou outro “adjetivo” desses. Mas são menos felizes, ou passam por uma quantidade de momentos infelizes maior. Eu sei que não sou ninguém para dizer nada – e nem tenho essa pretensão -, mas com vocês me sinto a vontade para falar. Agradeço aos dois por me lembrarem essa autora estonteante (literariamente falando) que tanto bem - através de tanto "mal" - me fez. Sigo agora com cicatrizes, agruras que espero superar e com um livro da dita cuja debaixo do braço.

Um beijo e um abraço!

Ass: J.P.P.

2 comentários:

  1. J.P.P. é vc mesmo Alan? De qq forma, foi um prazer ler este texto! Belas palavras! :)

    ResponderExcluir
  2. Como complemento textual, aproveito dessas belas palavras: "Gatsby acreditava na luz verde, no futuro orgástico que ano a não recua a nossa frente. Ele nos escapara então, mas isso não importava - amanhã correremos mais rápido, estenderemos mais adiante nossos braços... E numa bela manhã..." O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald.

    ResponderExcluir