segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Linha a linha (ou entrelinhas)

Sacul Ittazub era árabe. Ou escandinavo. Ou israelita. Morava no Brasil há alguns anos. Tinha certa dificuldade em compreender a língua que o acolhia e sustentava sobre o lado direito do ombro um sinal. Fazia uma enorme "salada indigesta" com tantas palavras evidentes. Assim, arriscava constantemente apreciar linhas, apesar de seus "juízos de valor míopes". Era arrebatado de um enorme "frisón" quando ouvia de seus interlocutores que sim, estava correto aquilo que dizia. Alguns, por vezes, corroboravam, no entanto, erroneamente com suas inferições. E assim que percebiam tal deslize, corrigiam-se o corrigindo.

Ele, do alto de sua postura acadêmica (sabe-se lá de onde), arqueava em riste seus antebraços simbolicamente representando uma banana - ou dando uma banana para aqueles. Os "embananando", acreditava que tornaria verdade aquilo que supunha: "logo eu que cri que não crer era o vero crer em colocar a mão no bolso". Vêem? Incompreensível, não? No entanto, havia conseguido arrecadar, por mérito, um montante considerável para um imigrante (devia ser turco) em épocas de pouca colonização e muita massificação.

Havia construído uma enorme lan house sob o letreiro "Fila Dupla", referindo-se, claro, aos códigos binários essenciais para o funcionamento da rede. O logotipo da empresa era idêntico ao sinal cravado em seu ombro. Uma mistura de tatuagem com queimadura de terceiro grau. Certa vez, indagado sobre um corrupto inveterado que recobria de mãos os bolsos alheios e, posteriormente, permanecia por horas e horas em sua empresa, alimentando, por conseguinte, sua conta bancária, causava grande desaprovação entre os comerciantes em redor. "São pessoas sérias, há que se distinguir casos e casos", dizia.

Ora Ittazub, pare de verborragizar tons "a esmo, sem critério, apenas visando lucro". E ele, dando de ombros, dizia que os outros é que deviam "conquistar simpatizantes". Faliu, "devido ao alto índice de desaprovação". No derradeiro momento de desilusão, sustentava olhos em lágrimas ao visualizar as últimas atrocidades de seus invejosos. Ao sair na porta de sua bancarrota internética, o letreiro com sua logo, sua marca, tinha sido vilipendiado, quase um atentado ao pudor. Haviam "furado o sinal" de Ittazub. Cabisbaixo, profetizava: "esse filho-da-puta devia levar uma multa".

Feito trágico, caminhou noite adentro arquitetando pensamentos que, acreditava, eram vanguardistas. "O que haveria de ser feito é uma conscientização da população", "apenas para corrigir", "pro muleque crescer ciente da responsabilidade". Ittazub, Ittazub, volte para a Grécia. Lá não tem brasileiro imprudente ou "pessoas aplaudindo" o equívoco da moralidade. Existem apenas sádicos que, se rindo, riam-se de si mesmos em segredo.

12 comentários:

  1. Contraditório para quem escreveu "No mais, obrigado por comentar o texto, fico lisonjeado por apresentar sua opinião. Por favor, o faça mais vezes, sempre que quiser. Abraços.", não!?

    Chego até a temer por este comentário...

    ResponderExcluir
  2. Mais uma vez não sei do que vocês estão falando.

    ResponderExcluir
  3. Não me aborreci com nada. Apenas escrevi um texto. Vocês é que estão equivocados. Relaxem, isso daqui não é um ringue. Utilizo material para escrever meus textos, não importando de onde. Isso tudo é uma brincadeira e não uma afronta.

    ResponderExcluir
  4. Pô, ficou massa. Parece Paulo Coelho. Pelo menos não tem erros brutos de gramática.

    Mas, então, na boa, "Odranoel". Eu não tive a intenção de te desperespeitar, nem nada. Longe disso. Se tiver sutido esse efeito, se eu tiver sido duro com as palavras, até peço desculpas.

    Mas fico feliz que, pelo menos, tenha te inspirado. Diferente do personagem (que era esraelita, árabe ou escandinavo e depois tinha que voltar para a Grécia), eu não tenho dificuldades com a língua, mas também não tenho essa intelectualidade acadêmica toda. Sou formado em Jornalismo pelo Uni e amigo do Alan, como você (se não me engano).

    Apenas navego pela internet, leio textos, gostos deles ou não. E, às vezes, os comento. Também diferente do Ittazubi - mesmo tendo me mudado para Brasília para trabalhar, há alguns meses -, sou muito honesto. Não admito, muito menos corroboro com a corrupção, com a imoralidade. Fico revoltado. Vejo escândalos como esse do Governo do Distrito Federal e me enojo. Como a maioria dos que aqui vivem - e estão nas ruas protestando. Mesmo assim, sofrem de tabela o esteriótipo de "mora em Brasília, é safado". Como o mineiro é capial, o carioca é folgado, o paulista é bobo, o nordestino é preguiçoso.

    Como o ator é viado, o jornalista é doidão e o advogado é babaca. São as generalizações que me incomodam. Acho perigoso generalizar as coisas: "a BHTrans é corrupta, é de capital misto, por isso rouba". "Os agentes são sádicos, ficam canetando todo mundo pela cidade, por bel prazer". Se é para escrever um texto sobre isso, que escreva com mais propriedade. Já li, ouvi e assisti inúmeras e excelentes matérias, artigos e reportagens descendo a lenha na BHTrans. Pois eram bem fundamentados, com dados, opiniões, argumentos - pegando nos calos da empresa. Que é débil, claro. Comete seus inúmeros erros. Como a maiora das empresas em que trabalhamos.

    O cerne da questão, para mim, é o que o cidadão está fazendo quando entra no carro, em uma cidade mal planejada, com mais de um milhão de automóveis e em uma época onde você pode parcelar uma carro em até 100 vezes. Acho que por aí. Parar de pensar que tomar multa é errado. Você foi mal educado, desrespeitou um código brasileiro, e está sendo punido. Se não for assim, como deve ser?

    BH está um caos, a última vez que fui aí fiquei horrorizado. Aqui, pelo menos, as vias são largas e o povo é um pouco mais bem educado. Param para os pedestres, não buzinam. Ainda não chegou no ritmo alucinante daí. Penso mais nisso, no comportamento humano. Carro é uma arma. Carro mata. Perdi um tio que, com 28 anos, tomou uma fechada e morreu depois de bater numa mureta do Rio Arrudas.

    Acho que a discussão deve enveredar por esse caminho. Claro, sempre de olho nos órgãos públicos - e empresas de capital misto -, a quem pagamos os nossos impostos - e as nossas multas. Mas lembrando de como estamos dirigindo nossos carros.

    Não acho isso vanguardista, como o errôneo caixairo-viajante israelita, que mora na Grécia, Ittazub acharia. Aposto que ele, inescrupuloso e corrupto, não reflete sobre o comportamento e o futuro das pessoas. Mas deixa ele lá, rindo de si mesmo em segredo.

    Desculpe se fui verborrágico, galera!

    Abraços a todos!

    ResponderExcluir
  5. Prezado Lucas,

    obrigado pelo Paulo Coelho. O adoro. Acho um gênio da nossa literatura. Adiante, "os erros brutos de gramática" podem acontecer sem percebermos, por descuido ou distração de digitação e não por ignorância, pelo menos nesse caso. Ou não? "Sutido", "caixairo-viajante"... aliás, obrigado Érica e você: é "tráfego" e não "tráfico". Na verdade, não fui "inspirado" por suas colocações. Escrevi o texto (que nem achei bom) mais para provocá-lo, pois fiquei incomodado com sua arrogância e prepotência, daí fiz essa brincadeira. Mas o Sacul não é, nem nunca foi você. Apenas utilizei suas palavras para escrever esse conto. E não tenho dúvidas que é honesto, porque a querela não passa por aí. No mais, repito: não sou jornalista. Aqui, não tenho obrigação de almejar um texto "imparcial", isso é utopia que deve ser buscada por você, "jornalista que trabalha em Brasíla". Teci meus comentários com base no que li em vários jornais e publicações sobre o fato. Assim, nunca defendi a desmoralização das multas e sim da aplicação destas pela BHTrans. Mas isso já rendeu demais. Sigamos.

    ResponderExcluir
  6. Que tal trocarem o msn agora? Aqui, no blog, já basta né!?

    ResponderExcluir
  7. Pô, Leonardo. Tudo na boa. Discordo mais uma vez, agora sobre o Paulo Coelho. rs

    Mas, sério. Sei que você é um cara bacana, afinal o Alan não anda com gente ruim. Não sou arrogante, nem prepotente. Quem me conhece sabe disso tambem. Não quis ter transmitido essa impressão. É que como é um dos poucos assuntos que eu manjo um pouquinho mais, pq trabalhei lá um ano e meio e tal, fiquei meio chateado com algumas injustiças e erros que li no seu texto. E quis comentar.

    Mas é isso aí. Sigamos.

    ResponderExcluir