quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sobre personagens e nós mesmos

O que se segue logo abaixo não se trata de uma resenha. É nada do tudo contido no conteúdo inteiro.


Ao terminar de ler Juliet, Nua e Crua (2009), último lançamento de Nick Horby - excelente autor inglês já mencionado aqui, inclusive, e que chegou ao Brasil este ano - tive uma sensação diferente, tamanha a minha identificação com as personagens da obra. Sei que é mais do que normal fazermos esse tipo de associação íntima ao ler um livro, mas nesse caso as três figuras principais da trama me revelaram certa proximidade; todos juntos e da mesma forma. E como é bom quando isso acontece. É uma espécie de plus literário, um bônus.

Trata-se de pessoas comuns de meia idade que acreditam já ter vivido mais da metade do que tinham para viver e desperdiçaram boa parte desse tempo. Duncan, Annie e Tucker Crowe. Não são grandes exemplos, mas quem é? São exemplares comuns e contemporâneos do mundo em que vivemos. São amargos, rudes e nada pudicos. Mas são incrivelmente cativantes. Divertem e incitam reflexões que, ao menos no meu caso - após a digestão, me foram muito úteis. Enxerguei-me na pele daqueles que não se sentem capacitados de mudar o curso monótono da vida que levam, seja por já estarem acostumados a esse modo de viver ou por medo de as mudanças darem errado. Ou, ainda, por não terem o que fazer. Não importa.

Sentado na areia, me pus a pensar sobre personagens, pessoas e suas múltiplas faces. Antes, quando ainda transitava pelas estradas do recorte leste do litoral fluminense, já tinha chegado à conclusão de que gosto mais daquelas pessoas que não precisam de tudo 100% para se sentirem bem e vivas. Não se trata de conformar-se com uma vida mais ou menos e defenestrar esforços engrandecedores; longe disso. Mas o lance é fazer o melhor com aquilo que se tem e aceitar que a vida não passa de um simples romance cheio de clichês. Por hora dramático ou cômico. Noutras vezes mudo ou horrendo. Quase sempre tragicômico e melodramático. Grave e agudo.

Para falar mais um pouco do livro, mesmo que isso aqui não pretenda ser uma resenha, há de se salutar a incrível habilidade de Hornby em construir narrações perfeitas, amarradas e que retém totalmente a atenção, mesmo numa obra que parece ter sido dividida em duas partes: Duncan/Annie e Annie/Crowe; cada uma com um viés e uma pegada distinta. Incrível! Obviamente, como é característico do autor, a música e a proximidade para com o leitor são traços marcantes também nesse escrito.

Nick Horby se destaca por retratar o tempo corrente magnificamente. A cadência particular e a construção polivalente de períodos agregam valores. Continuo preferindo o Alta Fidelidade (1995), mas que belo livro é o Juliet, Nua e Crua: uma trama bem montada, com elementos que atraem e prendem a atenção e que levam a pensar os atos de cada personagem por menores que sejam, fazendo com que nos fixemos na história e entendamos os anseios de suas personagens, muitas vezes semelhantes aos nossos.

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