segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Luas da cabeça


Vinha àquela sensação de angústia, aperto. Não sabia bem como se desviar, evitar o porvir. Talvez, bem diziam, surrupiava-o. Nos instantes do aqui, redundava-se no mesmo. Caminho de volta para casa, roça de ida para o nada. Esquivar-se de algo que tem certeza, o invólucro do medo. A esperança, melindrosa, hoje quase menina mimada, era de que tudo transformaria. Sempre. É no sempre, no irracional, que pensamos o ridículo que é. O puritano em busca da bruxaria. O pássaro em busca da tempestade. O peito no rascunho do coração. No mais, “vai nascer, ô trem!”.

O poeta medíocre se contenta com o mínimo
O não inteligível para as massas

Se recobre de ouro

Lambuza-se de Eus

O poeta medíocre é sempre o outro

O poeta medíocre sente cãibra no oco da cabeça

Cambiava o Eu na resistência ao Outro. No através, a fábula. Nunca resistiria aos olhos fatigados, ao menear do tronco, ao ímpeto da queda pelo simples risco de quedar-se. O nariz do Outro é fino, não empinado. Suas esticadas já no quase. A vista do outro vislumbra, aparentemente, o mesmo do Eu. Esmorecidos, ambos, gorjeiam suas palavras em tom mesmo. Assoviam os olhos do Eu. Cochicham os lábios do Outro. Resmungam os dois, em uníssono. Cabotino, o Outro era Ela com Eu na saudade do antes e no ímpeto do hoje.

A borda do peito. O risco do mundo. O balão. A angústia atrofiada, desgastada, concede, enfim, trato. De canto, ganhando a morte ainda em vida, o Eu respira rascante um ar que não é de alívio. Como se inflar a caixa estendesse a dor, cultivasse em seu peito um jardim em que brotam flores negras, exalam aromas fúnebres. Nele, rabiscam pelo céu cinzento pássaros com olhos rubros, que cantam um hino triste, desses que atravessam a gente. O rufar da grama crescendo aclarava para os ouvidos onde não havia imagem. Estranho como palavras podem prender mais que cordas.

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