segunda-feira, 29 de junho de 2009

Influenza A

A nova gripe suína fez sua primeira vítima - que faleceu menos de 15 dias depois de ser diagnosticado doente - nas nossas terras tupiniquins e obrigou duas cidades gaúchas - São Gabriel e Itaqui - a decretarem estado de emergência. Aulas foram suspensas por 10 dias (a princípio) em escolas públicas e privadas e os eventos com aglomeração de pessoas estão suspensos. A proximidade com a fronteira argentina também serviu de alarde para a assinatura do decreto, já que o país já registrou casos e óbitos por conta do vírus A.

Até o presente momento já foram confirmados 627 casos da doença no Brasil, sendo 40 deles no Rio Grande do Sul. José Gomes Temporão, Ministro da Saúde, avaliou que a estratégia de combate à gripe suína vem obtendo sucesso na tentativa de impedir, através de um grande esforço de informação, de mobilização, de controle das fronteiras, vigilância epidemiológica, diagnóstico e acompanhamento dos contatos, que o vírus circule no país. Segundo ele, "a estratégia continuará sendo desenvolvida.” É bom mesmo ficar esperto; aquela história de marolinha já era.

Dois dos que vos escrevem aqui neste altivo espaço (eu e Luiz; sim, ele também escreve - ou escreverá), produziram, certa vez, um documentário com foco em porcos. O filme rodou mostras dentro e fora do país e ganhou um destaque inimaginável para aqueles que o fizeram. De caráter militante, mesmo sem querer, o Pocilga de Sequestro caiu nas graças da rede e desde 2006 vem sendo assistido mundo afora.

Eis aqui a pérola:

domingo, 28 de junho de 2009

[Sem assunto]

Caro amigo,

por aqui as coisas andam em passos de caipora. Dia e noite minha cabeça pensa que pensa, mas me põe em um lugar inerte, no qual não sei qual será a solução disso... sei apenas que deve vir, a jato, a automóvel, a pé, no rastro do pensamento. Espero que por aí as coisas estejam melhor ou ao menos mais calmas. A serenidade daqui nunca é extensa, sempre vem acompanhada de uma angústia, um desprezo, um arrependimento. Certa vez me perguntei como resolver isto, como pôr fim em impulsos de morte do espírito tão fortes. Nunca consegui conclusão alguma. Imaginemos que sentir uma dor é o suficiente para saber que há de se ter cuidado para não embater sobre ela novamente. No entanto, apesar de tal aviso, a sentimos com maior e desorientamente mais força. Olhos traídos nunca mais enxergam a mesma imagem. Doravante ela é má, receosa, maquiavélica. A vida só é triste quando a sentimos de verdade. Só existe quando é a dor e não a felicidade que nos acomete. A felicidade é um barco que rema sempre em favor da maré, por isso não importa para onde vai, apenas acompanha. Contudo, a dor faz o caminho contrário, provoca e desafia nosso estado acomodado remando rio acima, rasgando a superfície da água com seus pedaços de madeira que questionam a legitimidade daquela correnteza. Não bastassem tais infortúnios, cancelamentos da alma, ainda me sinto só. Tristemente só. Encontro conforto em lugar onde havia o receio e a indisciplinaridade, a anarquia. Não pode haver anarquia em nenhum lugar. Nem na arte, em nenhuma arte, posto que num quixitim de lugar deva acontecer a ordem. É preciso a ordem para esclarecer a presença da desordem - e vice-versa. Procuro muitas vezes um conforto e segurança num porto que me trouxe a tempestade, a saraivada de água do alto. E isso me põe pra dentro, como se o peito voltasse contra si mesmo e se tornasse um buraco negro, um abismo imenso em que não se consegue encontrar nada. Como se, na tentativa de pescar com as mãos as agruras do espírito, estas fugissem, esquivassem por entre os dedos. A nau que antes me conduzia naufragou, pôs-se de bico às profundezas. O que me torna chulo, mesquinho, vingativo, é acreditar que tudo passa. Parece-me atitude omissa, covarde. Mas o que fazer quando o porto seguro é o seu algoz, quando quem dá o gelo é também quem lhe trouxe fogo, quando o choro, mais forte, é daquele que também provocou o riso, quando a confissão é com a própria besta? A solidão dói, mas é assim que se arqueia a construção da alma. Amigo, que sua resposta transcreva palavras tristes, mas que tragam felicidade, o pulo no vácuo que é a libertação. Um beijo carregado de incertezas e angústias, mas que espera vindouros dias de júbilo atravessados por uma consciência viva, que carrega em seu embornal a certeza absoluta do seu ato.

Um abraço afetuoso,
Paulo.

sábado, 27 de junho de 2009

de dentro






não tem nada
nada.
não tem choro que aguente
nem corte de faca
nada.
nada é tão inseguro e lindo
como o bote de uma fada
num dia louco.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Agonia

Normais dias de sábado quando acordo para ler o meu jornal que, assim sendo, hoje leio na parte da tarde. Agora a tempestade, sem a certeza da bonanza. Depois a calmaria molhada que não me serve em nada. Agora escrito, depois apagado. Doce era aquele mar. E você ainda dorme...

Do parto (ou de quando vem algo inesperado)


Não interessa o gosto musical, a retórica cantilena de acadêmicos musicistas quanto à frivolidade de sua obra ante Debussy, Bernstein ou Grieg, muito menos seu comportamento, suas plásticas, seus escudos pueris, o magnetismo de sua obra em angariar tantas vendas, as dicotomias de suas frases, o montante de sua dívida, os escândalos, suas aparições, seus desaparecimentos, os boatos, suas pequenices, sua suposta pederastia, sua suposta pedofilia, tudo isto não desvia ou sobrepõe algo indizível, uma sensação de algo perdido, uma fidelidade, que nunca existiu, a recordação de infância, adolescência e atualidade que, acompanhando ou não o músico, sempre teve notícias do ícone, de alguém ou alguma coisa que me causou estranhamento e certo teor de perda. Penso numa coisa, neste momento inegociavelmente sem resposta futura: a peculiaridade de ser um artista reconhecido mundialmente desde os 8 anos. Como era, em que pensava, como funcionava sua cabeça?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Da última vez que conversei com ele, na hora em que cheguei estava muito nublado. Encontrei-o concentrado, sentado próximo à sua vitrolinha ligada no noticiário. Estava fazendo um jogo de loteria, sua ‘fézinha’. Cheguei e como sempre disse: Ô gente boa! E ele respondeu bem alto: Ô gente boa!. Aliás, ele sempre grita ao cumprimentar. Começamos a falar sobre a chuva, que ele tanto adora. Diz que é o choro do céu.

Muito não se sabe sobre ele. Sabe-se apenas que ele mora por ali. Pelo o que se pode notar, parece que não foi homem de vida fácil. Certo dia me disse que nunca teve luxo. Mas isso era facilmente perceptível; sua - hoje - velha fisionomia sofrida entregava. Disse-me também que não teve luxo porque Deus já tinha lhe dado a alegria de viver feliz. Vai ver ele não quis abusar da boa vontade divina.

Como já era sabido, a chuva começou a cair forte. Ajudei-o a colocar tudo debaixo da marquise e quando reparei, alguns dos copos que ele mesmo fabrica ficaram na chuva. Quando falei que ia buscá-los ele disse não. Eu, curioso, quis saber o motivo. E ele falou que após a chuva sempre recebe visitas. Fiquei calado, sem graça por não ter entendido. Então, ele continuou: É feio não dar de beber a quem o visita. Tome, beba. São lágrimas de céu.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Eclipse

sonhei com estrelas (ou eram vagalumes?)
de vez em tal
dias acordam noite
é uma sensação notável
quando se desperta se deita
um olho fechado e o outro se abre

no deita-levanta do sim-não
o imbróglio de um solilóquio de uma multidão
no certo-incerto de um camaleão
a caça mirando seu predador
um adeus para o lenço branco
ou uma tumba de feno para o imperador

gira o giro da noite
que quando o dia veio
a lua
feito foice
foi-se
e o farol do sol
em busca do outro
assolou-se

mas outro? (assombrou-se)
só se encontra no chão
não em nuvens
e dias apenas o são (ou não?)
as noites invejam o dia
mas dias apenas o são
certo dia a noite verá
que todas as noites dormirão dia
e todos os dias certo dia noites serão

verdade é que muita gente fica na torcida
que em algum dia ou noite
finalmente noite e dia
em ambos se tornarão
e os bons dias-noites
como dois fracassados
em certo momento do instante
se consolarão

O curioso caso da porta invisível


A quantidade de desdobramentos de imagens, sons, que a internet meretrizou em poucos anos é algo assombroso ante a História. Passadas as recentes revoluções Industrial e Conceitual (anos 70), atualmente nos enraizamos perigosamente em uma Revolução Tecnológica. Perdemos (ou ganhamos) uma outra noção de tempo, de resignificação de coisas já antes resignificadas criando algo insustentável, esquizofrênico, em que tudo pode ser tudo ou outra coisa, como os conceitos de Anarquia - em que o espaço virtual da Internet é o único possível de existí-la desde o surgimento intelectual do termo -, de Comunicação, Portabilidade, Consumismo, além do surgimento de outros (Link, Acessibilidade, Backup, Deletar).

Não há ainda uma enfermidade eletrônica quanto a isto, posto que, teoricamente, a Internet não polui, não degrada, não causa dano físico a nada nem a ninguém, mas apenas os meios e modos que são utilizados para mantê-la: o que dá na mesma. O fracasso de tal Revolução, no entanto, ergue-se ferozmente ao propiciar a qualquer indivíduo causar mazela psíquica financeira, moral e que, na esfera ciber, toma proporções hipertróficas. Como um cria cuervos, indústrias pensam programas incopiáveis, mas que geram outra demanda, a de pessoas que pensam programas para quebrar tais chaves binárias. A tentativa de criar um panóptico no Google, de estabilizar um sistema por essência instável, de guardar trilhões (dado generoso) de emails em uma única caixa - aliás, onde ficam guardados os emails? -, estaciona em um fato exuberantemente incômodo: não existe controle para aquilo que não existe dono.

Ratificar o improvável, reter o infinito, resguardar algo num corpo nu, combater o todo no espaço da amplidão, são distúrbios eletrônicos criados pelo e no próprio meio em que foram gerados. O que nos "salvaria" de tantos infortúnios futuros deveria ser uma nova Revolução, uma desestruturação do estado das coisas, algo como "pode tudo, mas não pode qualquer coisa", senão vira bagunça, se é que, inconscientemente, já não virou.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Macilência

Do alto de onde eu vejo meu dia começar, nada me parece mais sem graça; apesar das cores da praça que começam a acordar.

Os placebos de boa vizinhança que os outros insistem em tomar me irritam, apesar da boa música que dá bom dia aos meus ouvidos.

Os pensamentos que me incomodam a respeito daquilo que eu acho que deveria acontecer, mas não acontece, eu tento, com algum sucesso, espantar com bom humor.

E aquilo que o oposto da razão persiste em me dizer eu tento fingir que não escuto, pelo simples medo de me arrepender.

Do alto de onde eu vejo o meu dia terminar, nada mais me parece tão gracioso; apesar do fosco da penumbra tomar conta dos contornos da rua, dando a impressão de sombra incompleta.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Somos todos cozinheiros

Eu, desde que me formei, alimento uma desilusão e uma descrença enorme pelo jornalismo. Aquele meu ímpeto, meus ideais e minha motivação para o exercício foram descendo pelo ralo a cada dia que acordava para estudar/trabalhar. Tanto é que, hoje, não atuo mais no meio. Acho que, talvez, nem sequer cheguei a ser verdadeiramente atuante. Mas pode ter sido por conta das peripécias do meu azar ou sorte. Contudo, sempre gostei da profissão.

É impossível não se horrorizar perante a decisão do STF, presidido pelo graduado ministro Gilmar Mendes, que, ao fim da novela, decidiu por derrubar a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da função. O que vai acontecer é que o mercado – pardieiro fétido – vai ficar mais lamacento, porém, com a novidade de uma camada emergente: os não-diplomados super qualificados que, obviamente, existem.

Sim, claro. Nada mais fácil do que encontrar por aí graduados que, de valioso, possuem apenas aquele documento de papel. Todavia, a falta de respeito e o descaso, sob o prisma da liberdade de expressão, não se justificam. Abalaram uma classe importante e que, apesar de pseudo-unida, agregou valores. A preocupação daqueles que sonham decolar a conta bancária com o jornalismo não se justifica da mesma forma. Há não ser que você tenha um bom anjo da guarda, é muito difícil ficar na ‘maciota’. A grana nunca foi boa, quase nunca justa.

Os que prezam a boa qualidade do serviço e o bom resultado priorizarão os qualificados, aqueles com algo mais que apenas o diploma. A luta ficou mais difícil. O mercado mais sujo. Mas não é motivo para armar uma causa e sair coletando, no pior sentido da palavra, adeptos ao movimento. Na prática, creio que não mudará muita coisa. Muita coisa não.

Não satisfeito em fazer pouco caso dos jornalistas, o metre Gilmar Mendes, pelo o que eu fiquei sabendo, comprou briga com a galera da cozinha. Eles se sentiram ofendidos com a comparação!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Eu também tenho uma coluna inaugural

Depois do despretensioso texto-teste postado abaixo, para fins de configurar este altivo espaço, sigo com aquilo que penso que sei, ou não sei. O saudoso ‘O Binóculo’, compartilhado por esses três jornalistas que em comum pelo jornalismo possuem apenas o hobby, poliu. E é do hobby que eu tiro aquilo que produzo, mesmo em horas ruins. Um amigo, também formado jornalista por conta do hobby, me disse uma vez que me acha hipérbolo e comedido ao mesmo tempo. Até nos textos. Beleza! Sou jornalista formado, acho que sou escritor e me meto a entender sobre vários outros assuntos, como o ‘O Binóculo’ me ensinou a ser. Na verdade, isso aqui nada mais é do que um espaço para três velhos companheiros que compartilharam os utópicos – ou nem isso – tempos de faculdade, regurgitarem o velho ofício de ter um hobby de escrever. Futebol, cinema, música, teatro, prosa, poemas ruins. E nada é melhor do que isso.

Dá até pra comentar...

O calo na garganta de Simonal


Reverberando comentários sobre o documentário de Wilson Simonal, dirigido por Cláudio Manoel, “Simonal – ninguém sabe o duro que dei” é material de análise para vários críticos se interpelarem com pensamentos, por vezes, demasiado Ilusórios. Para quem assistiu à película, tais apontamentos positivos ou negativos sobre sua suposta relação nebulosa com a ditadura (DOPS) não são o mote do documentário. Assim, o que se lê em periódicos impressos e online são mais posicionamentos políticos ante a história de Simonal do que, aceptivamente, fatos que se apresentam no filme. Aliás, pouco se encontra no filme, excetuando-se a confirmação e consolidação de que o “delator” foi um dos mais talentosos intérpretes que nossa música já teve ou tem.

Digo também no presente, pois atualmente não temos mais intérpretes, tanto de suas músicas quanto das dos outros. É um cacareco sonoro contínuo, irrefreável e, pior, vigente. Acrescente-se a isto um pequeno pormenor: voz “limpa”, extremamente técnica e com timbre agradável não são unívocos de qualidade interpretativa. Vide Jackson do Pandeiro, Noriel Vilela, Baden Powell, Bezerra da Silva, Adoniran Barbosa, Cartola, que não teriam uma “sonoridade acadêmica” e seria impensável, quase um sacrilégio, se estes a tivessem. Todavia, entrecortado por todos esses aspectos técnicos vibratórios que dominava (como “dedura” o filme), Simonal se diferencia, até hoje, de uma matilha de vozes.

Visto isto, é notório que críticos – leia-se quase palpiteiros – promovessem uma querela sobre tal caso, intentando construir uma reflexão velada sobre seu envolvimento com a direita-esquerda que aquela década vivia. Que Simonal era um enfermo cerebral não se contesta. Afinal, envolver-se com qualquer um dos lados dicotômicos daquele período já era achaque suficiente para qualquer um, oxalá não se manifestar. Talvez por sua ignorância política, talvez por sua candura pueril (não menos estúpida), o cantor foi boicotado por redes de televisão, rádios, jornais, casas de espetáculo, gravadoras e até mesmo amigos – haja vista a maior alcoviteira da música popular brasileira, Nelson Motta.

A respeito de enquadramentos de câmera e trilha sonora que sugeririam atmosferas opressoras (em Toni Tornado), garbosas (em Chico Anísio) ou cúmplices (em Simoninha e Max de Castro) que alguns blogs postaram - O Biscoito fino e a massa e Samurai no outono -, concordo plenamente sob o aspecto técnico. Tais recursos são e foram estudados servindo de tese, inclusive, para vários pesquisadores e teóricos. Mas se foram utilizados com esse intuito, cumpriram sua função. Afinal, imensamente agradecido, colho ramos e deslumbres para um documentário que se vale de tais recursos, posto que, ao que parece, filmar uma não-ficcão deve ser algo cru, insosso imageticamente como os filmes e escola de Eduardo Coutinho – que só são maravilhosos porque são filmados por ele. Mas ainda assim é raso para ostentar que isto é que faz do longa um resgate positivo de Simonal, como tantos blogueiros/críticos ressaltam.

Se existe algo de recuperação da imagem, de resignação na película, isso é estraçalhado perante as imagens do músico no fim da carreira. Magro, decadente, com uma voz irreconhecível, Simonal desperta sim interesse de uma provável atual mídia ao aparecer (de programas como o do Ratinho, por exemplo). A visão caquética, moribunda de um homem que regia um coral de 50 mil pessoas no Maracanãzinho é estupenda, vociferante, arrebatadora com força de tempestade ao tombar o barco de uma crítica forçosa, algo como uma verborragia com potencial de nova língua para confundir as cabeças babilônicas de um leitor desavisado que, ainda hoje, guia seu temperamento opinativo pendurando-se em estruturadas frases – quase neologísticas – de alguns formadores de opinião.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Minha coluna inaugural


Muita pretensão deste blog se auto-intitular (essa palavra mudou com a reforma ortográfica?) “um que faltava”. A primeira razão: este que aqui vos escreve não tem a menor ideia (essa eu sei que mudou) do que será essa coluna, sobre o que abordará, sobre o que norteará a cachola deste jornalista à frente do computador.

A área esportiva - o futebol em 95% dos casos - aparece logo como o principal ensejo. O tema, além de paixão desde criança, guiou minhas escritas em quase cinco anos de colunista do hoje natimorto portal
‘O Binóculo’. Mas por isso mesmo talvez tenha já enchido o saco, ao menos de escrever a respeito.

A cultura sempre me provocou. O cinema, forte em mim, me fez um jornalista cinéfilo frustrado, pois de mim nunca saiu uma nota a respeito da sétima arte. De toda forma, em ‘O Binóculo’, procurei sempre abordagens que não ficassem restritas às quatro linhas, mas que transitassem pela cultura e, principalmente, por uma própria análise do jornalismo esportivo.

Por fim, o Meio Ambiente, não só uma preocupação recente mundial, mas meu ganha pão nos últimos dois anos, apresenta-se quase como uma imposição, uma obrigação para quem tem grandes aspirações nessa área que, não só prospera, como também é profundamente apaixonante.

E, já nessa edição inaugural, acabo não falando de nada, além de um monte de indefinições, dúvidas e inseguranças. Quem sabe está aí o caminho.


Oblongo feito ataúde


O x da questão é que eu prefiro as pessoas que, mesmo diferentes, se parecem comigo. E apesar de não serem muitas as coisas parecidas – as que fazem a diferença -, não são facilmente percebidas por aí. Pessoas que diferentes, são igualmente simples. Que mesmo com diferenças, são da mesma humilde forma. E que com tantas 'dessemelhanças', são equivalentemente sensíveis.

E é dessa maneira que você se apresenta para mim. Não falo isso por conta do sentimento que alimento por você e que agora me saltou aos olhos e ao coração. Falo por conta do que sempre cultivei, desde longínquos tempos. E isso pode até explicar a paixão fácil que me bateu. Sempre, mesmo que distantes, tive muito carinho por você. És querida. E não note nisso uma manifestação de insegurança; apesar de, confesso, senti-la vez ou outra. Quis apenas tornar fato consumado tudo isso que eu penso.

Numa fase de mudanças e reestruturações, você trouxe de volta pra dentro de mim uma sensação que há muito, mas muito tempo, eu não desfrutava. Algo com um efeito que de certa maneira é inédito. Não sou capaz, ainda, de definir com palavras firmes, mas, apesar de seguir as linhas retas da minha mão direita, também gosto de seguir as tortas da mão esquerda.

Isso tudo me confunde, me alegra e me amedronta. Quero você de um jeito só meu. Quero te proteger, mesmo que você não precise. Quero te namorar, mesmo que você ainda não tenha feito a sua cabeça. Eu quero te fazer feliz, tornar seus sonhos mais (ou um pouco mais) palpáveis. Sei que a tempestade de palavras que estou lhe dizendo chove violenta sobre o mar revolto da sua vida. Mas pode ser violenta da mesma forma quando cair sobre o caminho do arrependimento que cruzaria o meu destino caso eu não lhe dissesse nada. Embora os ventos de mudança estejam trazendo entusiasmo e fogo, entendo que você não veja as coisas como eu vejo. Mas eu nunca faria você errar e não há nada que eu não faria pra te deixar sentindo a mesma coisa que eu.

Pessoas são mesmo diferentes, mas, sem fazer menoscabo de nada, podem [até] perecer unidas. Quero você, solidão...