sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

BHTrans não pode mais multar (ou "ô maravilha!")



Certa vez, o Dono do Mundo resolveu tomar uma decisão. Exausto de tantas reclamações de seus súditos, decretou que todos os motoristas de ônibus e caminhão, de táxi e motoqueiros, fossem banidos para uma única cidade, tendo que conviver cotidianamente. Ainda que em protesto, já visualizando o caos entre eles, todos seguiram rumo para a Pqplândia. Com o tempo, o Dono do Mundo conferiu àquela cidade o status de extradição, lugar para onde todos os párias eram banidos. Como não havia meio de tal idéia dar certo, contratou (leia-se criou) uma empresa para canetá-los. E assim se fez a PqpTrans, mais tarde renomeada BHTrans.

Há de se ter parcimônia. Todavia, até que enfim desconfiaram que, além de incompetente no planejamento de tráfego (obrigado) da cidade, tal empresa indubitavelmente visa(va) lucro. O Ministério Público, ao indiciá-la, torna notório algo que apenas os motoristas vivenciavam: o autoritarismo de funcionários contratados pela Prefeitura para exercer a função de juízes da circulação de veículos urbanos. Sendo uma "empresa mista", como todos os períodicos belorizontinos copiaram-se, não deve ter o poder de decretar multas que, muitas vezes, ignoram aquilo que chamamos de bom-senso.

Ao abordar, seus fiscais são prepotentes, arrogantes e perniciosos. Ao multar, parecem ter o dom. Recordo um professor de legislação de trânsito que tive para retirar minha habilitação. Quase em regozijo, vociferava palavras de ordem como: "tem que meter a caneta mesmo!". Como farão agora para arrecadar o gigantesco montante em épocas de IPVA ou no final do ano? Pedirão demissão ou serão demitidos ante ao enorme déficit esburacado pelas mãos da justiça? Não intento aqui tornar caos o trânsito já caótico de Belo Horizonte. Incentivar o motorista a desobedecer as leis. "A BHTrans não pode mais multar, então vai". Entretanto, contratar uma empresa privada - mesmo com a Prefeitura sendo sua maior acionista - para delegar funções e autorizações de punição que deveriam ser exercidas pelo Estado é algo, no mínimo, obscuro.

Isso é dever do poder público. Fiscalizar e punir com multa, mas apenas por aqueles que devem, em teoria, rabiscar o bloquinho. Com arrecadação de multas em torno de R$60 milhões por ano, não será nenhuma surpresa se a empresa decretar falência múltipla de seus órgãos em pouco. Isso não é um desabafo de um lesado pela BHTrans. Recebi, sim, algumas multas por infrações que julgo, inclusive, corretas de serem punidas. No entanto, causar margem para excessos e abusos sendo, inclusive, desconfiadamente maliciosas tais multas, quase maquiavélicas, é algo intolerável.

Contudo, a Prefeitura de Belo Horizonte (atual dona da BHTrans) não concorda com tal decisão. Em nota, informou aos desavisados infratores que tentarem "usufruir" da sentença: "a orientação é de que a BHTrans continue atuando na operação e fiscalização do trânsito até que a ação transite em julgado". Já em nota devidamente autenticada pela empresa deveria também alertar: "informamos que todos os funcionários estão de aviso-prévio".

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

E Deus, existe?



Essa semana a Rede Record de Televisão foi acusada de vender propaganda irregular na cidade de Feira de Santana, na Bahia. A notícia conta que a emissora exibe comerciais diferentes na cidade aqui citada e em Salvador. Não sendo geradora, pois não tem concessão, a Record só pode retransmitir o seu sinal. Por lei, tal prática é irregular, posto que ela só pode veicular seus próprios comerciais.

Lhufas para tudo isso. O que penso, notoriamente influenciado por meu agnosticismo, é o tamanho que tal empresa tem ganhado ao longo dos anos. Propriedade de uma igreja - só isto já bastaria para se fitar de soslaio sua integridade, não importando qual corrente religiosa -, maquiada por programação mista, sem radicalismo ou pregações evidentes às suas ideologias (ainda restam?), a Rede Record abraça diversos meios de comunicação no país. Antes pertencente ao Grupo Sílvio Santos, foi vendida no final da década de 80 para a Edir Macedo Indústria Ltda.

A partir daí, comprou diversas redes de televisão pelo país, além de rádios, jornais e revistas do segmento. Atualmente, integra a segunda potência em comunicação no Brasil, tomando progressiva e pasteurizadamente o lugar de outras emissoras no Ibope, ao copiar descaradamente a Rede Globo, outra bobagem audiovisual. No entanto, isto tudo não foi adquirido de maneira desventurada.

A Igreja Universal do Reino de Deus angaria fiés ao longo dos anos de maneira espetacular. Tendo o mínimo de cuidado em apreciar seus métodos, pode-se notar claramente os motivos para tal sucesso que, diga-se com "méritos", não se distancia daqueles utilizados pela Igreja Católica, hoje decadente. Quando se vai a um culto evangélico ou, em sua maioria, aos das quermesses protestantes, notamos um apuro e cuidados meticulosos.

Paralelando-se a Igreja Católica com a Evangélica percebemos: os cantos dos hinos no catolicismo são deploráveis, tanto pelas letras quanto pela melodia, relegada, quase sempre, a um violão e vozes desafinadas; já com as igrejas protestantes, um coro afinadíssimo, uma banda redonda e uma amplificação de show fazem bem aos ouvidos, há de se reconhecer; a missa austera, pragmática, desmedidamente maçante faz qualquer beato dormir; na Catedral da Fé, todos são chamados constantemente ao novo, à atenção com o discurso, seja pelos gritos e uivos do pastor, seja pelos milagres, estes também existentes na Católica; a estrutura física da Igreja Católica lembra o período medieval, com seus bancos de madeira, seus enormes adros que alicerçam sua ostentação, além dos novíssimos ventiladores que circulam ar quente; bem diferente dos Templos da Libertação com seus acolchoados bancos e seus ar-condicionados (foda-se a nova regra gramatical) que recebem confortavelmente seus clientes, ops! fiés (ok, gafe para as duas).

Entre ambas, um dado as aproxima: são extremamente retóricas e preconceituosas. Ainda não tomamos tento de que religião deveria ser tratada de maneira científica e não metafísica, com possibilidades sobrenaturais de intervenção. Mesmo passados o Iluminismo e o Humanismo, somos ainda reféns da fé, este conceito criado e proliferado por todas as religiões quando indagadas ao extremo sobre a explicação das coisas: "não há, deve-se ter fé!". Sob o prisma de que vivemos em um mundo racional, seja lá o que isto significar, perdemo-nos, a exemplo, em porcas discussões televisivas em que se aponta uma para a face da outra demagogicamente o dedo em riste.

Assim, rogo, que a Record e a Globo se fundam em uma mesma empresa, com todos satisfeitos e com os bolsos portentos da junção entre fiés, telespectadores e desavisados que, incautos, ainda acreditam em um discurso proferido por bocas sujas, hereges e ambiciosas. Sim, esta é a lei do mercado ou de Deus, como quiserem. Ou será que o símbolo das duas ser um globo terrestre é apenas um detalhe?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mais um, este de setembro do ano de 1977, daquele que eu queria que fosse meu pseudônimo. Difícil, não? Pois é.

Uma mensagem cantada para uma certa moça, um poema-declaração para ela que abrilhantava seus pensamentos certos e dava-lhe a sensação de querer buscar. E, de fato, ele achou um incrível mecanismo de busca: a palavra. Palavra após palavra, organizadas em ordem de verdade, naquilo que ele acreditava ser sentimento.

Caraminholas na cabeça à parte, eis o rebento do moreno de traços fortes para a loira dos olhos azuis:












Quem sabe?

Que bela flor
Que suave fragrância
Mas... oh! Temor
Se a retirar da terra
Onde sua alegria germina e me encanta
Que ocorrerá?

Como um passarinho febo
A menina-flor voa com liberdade
Sua graça é sem par
Seu colorido divino

Uma tristeza insiste
Quero ter esta alada esperança
Vê-la cantar junto a mim
Porém... quase sempre não está

Nisto tudo existe o mistério
Um mistério doce
Quero o que não tenho
E o querer me faz pensar
Quando tiver o que eu quero
Posso no obter desencantar

A alegria murcha
A menina-flor presa
E o amor?

É isso, é isto ou não é nada disto?


Não entendo tamanho alarde sobre. Um documentário com fisiologia de show, alma de caça-níquel e personalidade maçante. Não há nada de novo, excetuando-se, claro, os poucos momentos em que a figura de um grande artista - e isto não há como medir ou protelar créditos - se apresenta como o principal atrativo da película. Contudo, perceber a magnitude de um show-hipertrófico em uma sala de cinema é, sem dúvida, o melhor a ser feito quando apreciar o filme.

Ignorar a obra de tal figura ou mesmo endossar o coro de imbecis reacionários/preconceituosos que a vulgarizam seria, bem provavelmente, o caminho mais "intelectualóide" de engendrar comentários. Mas, não é mesmo um bom filme. É algo menos glorioso. Além disto, deve-se ter o prisma de que é uma varredura do material existente de gravações dos ensaios. Ou seja, algo não preparado, mas sim reutilizado, reciclado daquilo que, indubitavelmente, aconteceria no show. O fato, incômodo, é que a menina de ouro do longa são os instantes dos bastidores em que, sim, a presença do artista sobrepõe a do ícone.

Mesmo ínfimas, suas aparições desveladas de tantas pessoas em seu redor ou dos obscuros comportamentos que teve (?) durante sua existência, tornam este o momento mais interessante, mais humano e menos produto. Somos, constante e despercebidamente, ludibriados pela hostilidade e arrogância em fundar nosso imaginário somente sobre a figura de um homem pedófilo. O que, sejamos sinceros, é a coisa mais imbecil que pode acontecer, posto que não direcionamos nossos olhos para algo muito maior.

Além disto, como os menos beócios têm ciência, reinventou o modo de produzir espetáculos, inventou um estilo, criou uma mescla entre funk, soul, disco e, ainda, de quebra sendo sua maior característica, quase fundou uma escola de dança - claro, alicerçado em James Brown, Gene Kelly, Fred Astaire e mais uma caçamba de gênios passistas.

Assim, não exalto o filme de Kenny Ortega como algo sublime, espetacular, estando há anos-luz disto. Todavia, o diretor do longa, que também dirigiu o show, intenta mostrar algo indizível, que deveria ter sido visto ao vivo e não em salas de cinema.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mouth tightly closed

As pessoas deveriam ser obrigadas a entender o silêncio. O silêncio é capaz de nos dizer muitas coisas. Coisas do tempo, dos sentidos. Coisas valiosas, ímpares e indispensáveis para uma boa conduta. Quem assim não o entende é burro, com o perdão da grosseria. Sei da dificuldade das mulheres para com tal prática - a do silêncio -, mas garanto que um esforço será bem recompensado. Homens não ficam muito atrás: desrespeitam esse momento célebre com bobagens, ninharias e arrotos infiéis. O ser humano desaprendeu o silêncio e ainda desrespeita as palavras. Palavras são valiosas, mesmo quando feias. Se assim não o fosse, sairiam pela bunda e não pela boca. Desta vez, sem o perdão da indelicadeza. Poupemos-nos. Vivamos bem. Vamos ficar mais calados e observar em quantidade maior. Vomitemos apenas aquilo que valha a pena. Calemos nossas bocas.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O antropólogo (ou do furto da soberba)


O homem com seu macaco, sustentado pelo antibraço, caminha por sobre a relva em busca de conhecimento. Estanca um pouco antes de retomar a jornada. Passa por vários templos de discussão que, remoldados por seus pensamentos e destrezas, hoje os atestam vetustos. No entanto, com passadas largas, peito aberto e uma chave, todos o observam para saber onde vai. Tolos, não entendem que abrirá mais uma porta da cabeça.


1908 Claude Lévi-Strauss 2009


segunda-feira, 2 de novembro de 2009