quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um grande garoto

Por mais improvável que isso possa parecer para alguns, a revista Veja dessa semana nos trouxe algo de útil e realmente interessante. Não me lembro da última vez que isso aconteceu. Nas páginas amarelas da edição de domingo passado, o entrevistado foi o escritor Nick Hornby, uma das principais figuras contemporâneas da ficção inglesa e que, inclusive, já foi citado aqui vez ou outra, por conta – principalmente – de seu incrível best seller Alta Fidelidade.

Enciclopédia do pop, ‘movimento’ retratado por ele em praticamente todos os seus personagens e obras, Hornby falou sobre cultura pop atual, música e formato digital.

Em relação a mp3, Ipod, blog e downloads, nada demais. Falou sobre a mudança que isso causou na relação entre ouvinte e música e sobre as vantagens versus desvantagens, qualidade versus quantidade, produção de valor versus produção descartável, real versus virtual. Tudo a que já estamos habituados a ouvir e ler. Entretanto, o ponto listado por último me chamou a atenção. “Há inúmeras comunidades organizadas em torno da música no mundo virtual, mas esse intercâmbio não existe mais no mundo real”. É praticamente como falam meu pai e meus amigos mais antigos, sob o ponto de vista de seus nascimentos.

Hoje em dia não existe mais aquela coisa de os amigos se encontrarem, com os discos de vinil debaixo do braço, para escutarem e falarem sobre música. Não existem mais lojas de discos como aquela retratada por Hornby em Alta Fidelidade e muito menos o antigo hábito de se comprar discos, e ficar ansioso com tal prática. Hoje fazemos downloads de inúmeros álbuns de uma só vez, mas sequer os escutamos posteriormente. Ficam largados no player. Apesar das compensações que isso trouxe, acarretou uma grande perda de tradição. Ao contrário de Nick, sou nostálgico, tanto que me reúno com meus amigos até hoje pra falar sobre música e ouvir nossos discos; sejam eles cd, mp3 ou vinis. Herança do meu pai que, por sorte, tive.

O ponto crucial dessa parte da entrevista em particular foi quando Hornby abordou a questão enquanto profissional de uma área criativa. É a partir daí que ele enxerga o grande problema dos formatos digitais. Afirmou que daqui a alguns anos, fazer dinheiro com música, livro ou filme poderá ficar bem mais difícil. “Será um obstáculo para a profissionalização do artista”. Do ponto de vista do consumidor, os formatos digitais pouco preocupam.

Tendo isso, interessante mesmo foi quando o foco da entrevista foi para a música e a cultura pop. Questionado se esse tipo de música ainda é um canal para os jovens se expressarem em relação às suas diferenças para com a sociedade, Hornby respondeu – com maestria – que o rock, por exemplo, agora é como a literatura: existe uma biblioteca estabelecida. Ouve-se o que está sendo feito hoje e nota-se que algumas coisas se parecem com Pink Floyd, Beatles, Rolling Stones ou outro clássico qualquer. “Os jovens ouvem Jimi Hendrix como quem lê Flaubert”, pontuou. Pelo que se pôde perceber, parece que o escritor crê numa mutação do rock para algo intelectual, além de cerebral, que atinge certa parte da juventude (quando atinge) como algo cult, se é que posso assim dizer. Aquela roupagem rebelde e revolucionária de outrora parece ter ficado apenas para registro e apreciação.

A verdade é que, de tudo o que é produzido nos dias atuais, muito pouca coisa é realmente e genuinamente autoral. De fato, pouca coisa é inovadora. Praticamente toda a massa pop musical disseminada hoje em dia é fruto do que veio antes. Parece que de tão bom, não se conseguiu fazer nada melhor que os produtos de duas, três ou quatro décadas atrás. Obviamente, sou obrigado a dizer que existem gratas exceções, para o nosso bel prazer. Mas o que nos enche os olhos (e os ouvidos) até hoje, são as velharias insubstituíveis, tais como as que Eric Clapton reuniu para o seu Crossroads Guitar Festival, a ser realizado em junho próximo, na cidade de Chicago – EUA.

O guitarrista reuniu nomes (só pra citar alguns) como Albert Lee, Allman Brothers Band, BB King, Buddy Guy, Gary Clark Jr., Hubert Sumlin, Jeff Beck, Jimmie Vaughan, João Gilberto, Joe Bonamassa, Jonny Lang, Robert Cray, Steve Winwood e ZZ Top para um dia inteiro de celebração musical em benefício ao Crossroads Centre da ilha de Antigua; criado em 1997 por Eric Clapton para oferecer qualidade e preços acessíveis para tratamento de álcool e outras drogas. Para conferir a programação completa, ter acesso a outras informações e mais detalhes desse incrível festival clique aqui.

Como ninguém merece ter o desprazer de comprar uma revista Veja, como bem disse minha amiga Renata, vulga @rebatata, me disponibilizo a enviar a entrevista com Nick Hornby para quem quiser. Basta solicita-la via comentário.

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