A possibilidade do não voto. E isto não é, acredito, nenhuma precaução exacerbada, uma covardia ou um abrir mão de um direito constitucional. Esse pormenor, inclusive, é discurso fácil nos lábios ditos democráticos, progressistas, que verbalizam um direito ao voto como algo contemporâneo, recente, mas que na verdade é retrógrado, arcaico em seu pensamento. Afinal, se o voto é livre e democrático, porque então obrigar o eleitor a fazê-lo? Sob pena de pagar multa (mesmo que irrisórios R$3,50), não conseguir emitir seu passaporte (tendo que ir a um cartório regularizar sua situação), além de ser proibido pela Justiça Eleitoral de participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos Estados, dos territórios, do Distrito Federal, dos municípios ou das respectivas autarquias e não poder pedir empréstimo por meio de qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, é mesmo algo democrático?
Evidentemente que todas estas situações são extremamente fáceis de serem resolvidas. Mas apenas o constrangimento que pode ser causado por elas já é característica execrável de qualquer processo democrático. Se uma democracia é o regime em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, direta ou indiretamente, estes também deveriam ter o direito de não votar, posto que isto já seria uma manifestação política. E digo não votar como o não comparecimento à zona eleitoral sem nenhuma punição futura.
Parece-me que a Constituição democrática, conseguida pelas Diretas Já!, apenas reforça o apontamento de que somos induzidos a seguir com as situações vigentes, tendo nossos direitos de protestar, requerer e cobrar satisfações sendo transmitidos à orgãos particulares, como a televisão, o rádio, os jornais, em suma a mídia que transborda nossas cabeças com informações desconexas e muitas vezes omissas diante de interesses escusos de formatação da notícia. E nós, claro, patentiados e registrados por uma credibilidade burra que confiamos a estes mecanismos, apenas nos resignamos ao pensamento recluso, em mesas de bar, que apenas resultam, muitas vezes, em uma dolorosa ressaca (moral e alcoólica).
Não entendo como a obrigação em votar deve ser tomada como algo "bom" por nossos antecessores que, apesar de corretos e históricos, deixaram para nós o pequeno detalhe da intolerância eleitoral. Acompanhando os debates, principalmente pela televisão que, apesar de tudo, é o único lugar em que se vê e ouve o candidato no instante em que este se pronuncia, sem maquiagens, montagens ou arremedos de marketing dilmísticos, percebo que a triste notícia é: não há em quem votar.
E este discurso inclusivo de atinar para "exercer o meu direito" é tão ou mais piegas do que dizer que o Tiririca é analfabeto - engodo desesperado dos literatos sem voto - ou que o Serra é parente próximo do Mr. Burns. Se o comediante (o Tiririca) o é ou o fosse, isto não lhe retiraria o direito de se candidatar. Se ganhar e não souber assinar seu próprio nome na ata de posse, daí é outra história.
E para os pessimistas, os otimistas, os revolucionários, os militantes fervorosos que ainda acreditam em ideologias partidárias, oriento que não vai haver nenhuma mudança drástica em nossa economia, nossa legislação ou Constituição - mesmo com a vitória do octogenário líder da juventude Plínio de Arruda Sampaio. O que veremos serão atitudes austeras que apenas nos arrastarão por mais quatro anos até a eleição presidencial de 2014, a ser vencida, bem provavelmente, por Luís Inácio.
Assim, votarei nulo. Sem remorso, pensamento anti-cidadania ou complacência ideológica com estes idiotas que picham "vote nulo" e nem sabem os nomes dos candidatos. Atestar que isto é alienação é tão estúpido quanto os próprios eleitores que votam por obrigação. Isto representa apenas uma escolha legal, de um cidadão que não percebe perspectivas nas propostas apresentadas. E a este direito, reservo-me como atuante e efusivo representante do processo eleitoral brasileiro.
obs: para os demais cargos, ainda estou a especular.